13 outubro 2010

Grandes Nomes da Literatura: Clarice Lispector

A obra de Clarice Lispector, para os que procuram literatura que causa alegria imediata, pode funcionar como um repelente. Para os mais introspectivos, como eu, no entanto, pode ser um meio interessante de constatar como as pessoas podem ser complexas, imprevisíveis e controversas. Em seus textos, um elemento recorrente é a epifania, que, na acepção aqui dada, significa uma súbita ocorrência de pensamento capaz de suscitar a compreensão total da essência ou do significado de alguma coisa. O curioso é que, nas histórias de Clarice, fatos totalmente maçantes ou inusitados acabam por desencadear a tal mudança repentina (e talvez, permanente) de comportamento por parte da personagem. No conto Amor, por exemplo, publicado originalmente na coletânea Laços de Família, uma dona-de-casa passa a enxergar a mediocridade de seu cotidiano ao deparar-se com um cego mascando chiclete. Tal fato traz o tal efeito epifânico, fazendo com que a pacata Ana perceba que sua vida resume-se a cuidar da casa, dos filhos e do marido, chegando a anular-se enquanto ser autônomo e pensante.
Afora o elemento epifânico, o enredo não traz nada de tão diferente do que se lê por aí, visto que incontáveis são os textos que abordam a passividade feminina diante de uma vida de subserviência. No entanto, vale a pena conferir não só este conto, como também toda a obra de Lispector, que conta, dentre outras obras, com os perturbadores A Hora da Estrela (recomendo também o filme, que faz rir e pensar) e A Paixão Segundo G. H.. A marca registrada da ucraniana naturalizada brasileira é a forma com que consegue reproduzir o fluxo do pensamento. Enquanto autores como Machado de Assis e José Saramago apenas sugerem e relatam o que pensam as personagens, Clarice apresenta ao leitor o pensamento tal qual ele surge em nossas mentes: de maneira não-linear e caótica.

Postado por Queli Souza.

 
Design by Scooby Doo jogos